revista helisul

Piloto por causa de uma propaganda de rádio e ‘chef de cozinha’ nas horas vagas

Compartilhe esse post

Share on facebook
Share on twitter
Share on linkedin
Share on email

Foi preciso o piloto comercial Bruno Domingues Nocera ir para outro país, para descobrir que o lugar dele é no Brasil e a realização profissional dentro da Helisul. Há pouco mais de dois anos, o curitibano é coordenador de operações de voo da empresa, o que aconteceu depois de uma enriquecedora experiência – e alguns perrengues – nos Estados Unidos.

Bruno nunca foi um garoto muito quieto. Antes disso, na adolescência, ali pelos 18 anos, surgiu a oportunidade de passar um tempo no Japão, com um tio que trabalhava lá. A mãe não pensou duas vezes em incentivar a viagem, já que o “acelerado” Bruno andava fazendo muita “arte” por aqui nessa fase. Foram três meses trabalhando duro na construção de asfaltos do outro lado do mundo.  

“Vim para o Brasil e fiquei mais um tempo. Depois voltei a ir para fora, para os Estados Unidos, onde fiquei quase oito anos”, conta Bruno. Como não poderia ser diferente, a vida no país estrangeiro foi bastante movimentada. O brasileiro aproveitou a experiência na construção civil e ergueu prédios e hotéis, mas também fez limpeza de casa, deu banho em cachorros, entregou pizzas, trabalhou em posto de combustíveis, foi garçom e até cozinheiro.

“Foi onde aprendi boa parte de cozinha. Meus pais têm espaço de eventos e trabalho na cozinha. A gente faz casamentos. Cozinho pra todo mundo. Há mais de sete anos faço isso na chácara do meu pai”, revela o “chef” Bruno. Mas ele ainda tem várias outras habilidades. 

“Todas as coisas que têm na chácara, sou eu que faço. Manutenções, pinturas, faço tudo. Além da mão de obra ser cara e difícil, a gente não acha mais as pessoas. Construí uma capela que a gente precisava e tudo isso aprendi nos EUA. Lá foi uma grande escola”, diz. Será que já pode chamar de “Bruno Hilbert”?

Vida vai, vida vem, entre uma entrega e outra de pizza com seu carro, Bruno sempre ouvia uma propaganda no rádio que acendeu uma luz e mudou todo o rumo. 

“Estava indo entregar pizza e tinha um rapaz que fazia propaganda de uma empresa que estava recrutando pessoas para serem pilotos, com todos os custos pagos, depois virariam instrutores de voo e, futuramente, dariam um emprego em uma das áreas deles na empresa. É como se fosse uma Helisul lá, com mais de 250 helicópteros”, conta. 

Bruno trabalhava muito, quase não tinha folga. Escutando todos os dias a propaganda, resolveu conferir, já que não tinha nada a perder. E ele estava certo. “Fui. A hora que entrei no hangar e vi aquele monte de helicópteros, falei: ‘Descobri o que quero fazer da minha vida!’. Foi dali pra frente que comecei a guardar dinheiro e me apaixonar pela aviação. Meu sonho era ser piloto de helicópteros.” 

Para realizar o novo sonho, Bruno teve que abrir mão da vida nos Estados Unidos, que não era tão simples, e voltar ao Brasil. Somente no seu país ele poderia estudar, já que a formação em terra norte-americana dependia de burocracias que não poderiam ser atendidas. “Foi um momento único. Estava perdido na vida, era muito jovem. E na época não tinha nada”, recorda ele.

Na volta a Curitiba, Bruno acabou se formando como piloto de avião e não de helicópteros, por acreditar que haveria mais chances de conseguir trabalho. “Resumo: hoje estou em uma empresa de helicópteros, querendo me formar piloto de helicóptero, porque tem mais helicóptero que avião. Estou almejando, e tenho muito apoio, para tirar minha habilitação.” 

Mas nem tudo foram flores neste retorno ao Brasil e na realização do sonho de ser aviador. Para começar, Bruno teve a difícil decisão de deixar o filho nos Estados Unidos. Lucas, o ‘americaninho”, como o chama o pai, está com 14 anos, mora com a mãe e aprendeu a se comunicar também em português. 

“Me deixa muito triste não ter acompanhado o crescimento dele. Deixei meu filho muito cedo. Foi uma decisão muito difícil. Meu filho é muito bom. Apesar da distância, temos muito contato.” 

Por aqui, Bruno tem Davi, de 11 anos, e a esposa, Isabela. 

Resgate e renascimento

Bruno sempre teve bastante afinidade com a área administrativa. Ainda na faculdade de aviação, conseguiu um estágio no departamento da Rio Linhas Aéreas, uma empresa cargueira de São José dos Pinhais. Foi a primeira experiência dele na área da aviação. 

A formatura como piloto comercial aconteceu em 2011. Surgiu então a oportunidade de compor a equipe de trabalho da Helisul. Bruno começou como analista de operações. A função administrativa era dividida com a de piloto particular. 

O profissional acabou optando por se dedicar a voar. Ele deixou a Helisul e foi trabalhar como piloto e copiloto de uma empresa em Belo Horizonte. Depois retornou a Curitiba e passou pelo pior momento: foram oito longos meses desempregado. 

Em setembro de 2019, Bruno foi convidado para ser atendente da Helisul no Aeroporto Internacional Afonso Pena. Cerca de quatro meses depois, foi “intimado” a trabalhar no setor de operações de voos no Bacacheri, onde hoje coordena uma equipe de 12 colaboradores. O retorno para a Helisul marcou a vida de Bruno como um “renascimento”, segundo ele.

“Tem uma pessoa que gosto de destacar muito que é o José Secchi. Foi justamente ele que me trouxe de volta. O momento mais difícil, desde que nasci, foi quando estava desempregado. Estava no limbo, parece que todos os amigos sumiram, as oportunidades desapareceram e eu não sabia mais o que fazer. Pensei em voltar a morar fora do país de novo. Até tentei o Canadá, mas o visto foi negado. E ele me chamou. Foi quando voltei a trabalhar na Helisul. Renasci”, comemora. 

Bruno conta que tem sido uma grande experiência atuar com os voos na prática e na administração das operações. Estar na Helisul hoje, como diz ele, é como frequentar uma pós-graduação.

“Adoro voar, é minha paixão mesmo. Depois que comecei a acumular essas duas funções, a fazer esse mix, tem sido muito bom. De certa forma, acabo conhecendo a empresa e entendendo o processo como um todo: como é burocrático trabalhar com a Anac, como é difícil certificar, autorizar uma operação, principalmente de táxi aéreo. Envolve muito trabalho, várias pessoas, tem que ler muita legislação.”