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O homem por trás das pinturas das aeronaves da Helisul há mais de 30 anos

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O paranaense Adir de Jesus Barbosa, de 58 anos, acompanha a trajetória da companhia desde a juventude e atribui suas conquistas na vida a ela.

Adir de Jesus Barbosa é um daqueles colaboradores que acompanham a Helisul desde o início, seja de dentro ou de fora. Aos 58 anos, é atualmente o inspetor de pintura da companhia e pode ser encontrado no hangar 10 do Aeroporto do Bacacheri. Ele vem de uma família de oito irmãos – três homens e cinco mulheres – criada em Adrianópolis, município a 130 quilômetros de Curitiba. 

Como era da faixa do meio, ajudou os pais e os mais velhos nos cuidados de uma turminha de irmãos mais novos. E a vida na cidade pequena era nada fácil. “Antigamente a vida era sofrida: interior, sítio, bastante irmãozinho pequeno, não tinha condição nenhuma de estudo, pai analfabeto”, recorda. 

Adir conta que ele, os pais, e a “aquela corrente de criança”, como ele diz, mudaram para a região de Curitiba em 1973. Foram morar na casa de uma tia no bairro Rio Verde, em Colombo, que fica na região metropolitana. A mãe comprou um terreno junto com o irmão e, com bastante sacrifício, construíram uma casa para a grande família, ao mesmo tempo em que ajudava a sustentar toda a gurizada com dois empregos.

“Ela era zeladora em um prédio no Cabral [bairro de Curitiba] e zeladora no prédio do então INPS (atual INSS) no bairro Bacacheri. Ia de manhã pro Cabral e, depois, das 17h até 22h no INSS. Chegava tarde em casa, tava todo mundo dormindo”, relembra Adir. 

Com apenas 10 anos, já gostava de acompanhar dona Francisca no trabalho. Gostava de ‘trabalhar’. Não era raro ganhar lanches, gorjetas e fazer amigos da mesma idade. “Às vezes ia junto com ela e ajudava a limpar o pátio e ia no dentista, no médico no outro prédio, que não cobravam.” 

Até então, Adir havia estudado até a quinta série do ensino fundamental. E aí começou a trabalhar, desta vez oficialmente, com o pai em uma empresa de São José dos Pinhais, na região metropolitana de Curitiba. “Ele arrumou emprego pra mim, tinha 14, 15 anos. Era ajudante geral, fazia de tudo um pouco.” 

Ele e seu Antonio passavam a semana em São José dos Pinhais, morando em uma casa cedida pela empresa, entre outros auxílios. Mesmo quando seu Antonio deixou o emprego, o adolescente de 16 anos continuou a trabalhar como ajudante geral. E, como já era antes, voltava para a casa da família em Colombo, nas folgas do fim de semana. 

Depois de um tempo, é que resolveu sair do local e foi trabalhar em uma fábrica de móveis de Quatro Barras, como operador de máquina de laminação, onde ficou por um ano e meio.

Portas em automático, preparar para decolagem

Enquanto isso, seu Antonio, ainda sem saber, preparava o terreno para o futuro profissional do filho no mundo da aviação desde que deixou aquele serviço lá em São José dos Pinhais. “Meu pai começou a trabalhar como auxiliar de serviços gerais no Aeroporto do Bacacheri. Meu irmão também foi trabalhar com ele. […] Nas férias, ia pro aeroporto com o pai e comecei a me apaixonar pela aviação”, recorda Adir. 

O ‘bicho carpinteiro’ que habitava em Adir fez com que, mesmo de férias, fosse ajudar um dos colegas da firma onde trabalhava o pai a pintar e lixar um avião. Era uma empresa de aviação que não existe mais. Não demorou muito, o jovem estava empregado e dividindo expediente com o pai novamente. 

Eis que um dia, um dos clientes que mantinham aeronaves para manutenção no local se tornou um grande incentivador e mudou sua vida. “Lá conheci o comandante Eloy. Depois de uns dois anos, a família Biesuz comprou a Helisul em Foz. De vez em quando prestava serviço de pintura, como terceirizado. E foi quando começou a minha história com a Helisul.” 

A relação profissional que se criava entre Adir e o comandante Eloy abria as portas para o pintor viver um sonho. Mas, antes de se concretizar, o comandante mal poderia imaginar a confusão que estava por vir por conta de um gesto de agradecimento.  

“Um dia um senhor que pintava helicópteros não quis ir fazer um serviço em Foz e aí ele pediu pra eu pintar. Eu dormia dentro do hangar mesmo. Ficava de noite copiando o desenho do outro helicóptero ao lado. O comandante perguntou quanto era, mas eu não sabia cobrar ainda”. 

O comandante Eloy, então, decidiu por conta própria quanto valia o serviço e entregou uma ‘bolada’ de dinheiro a Adir. Ainda pediu que fosse procurado na Helisul quando retornassem a Curitiba. Realmente o comandante foi, mas não poderia imaginar o tamanho da confusão que levaria Adir ao seu encontro.

“Cheguei com um bolo de dinheiro em casa e meu pai brigou comigo, dizendo que eu tinha roubado. Tive que ir com ele na frente do comandante Eloy, para comprovar que o dinheiro realmente era meu. Dias depois, ele me ofereceu um emprego. Isso em 1988/89”, lembra. 

O chefe também sugeriu que fizesse um curso de piloto, mas Adir achou melhor não acatar. “Não gostava de ir pra aula [risos] e continuei com a pintura, ajudava na manutenção”, conta. 

Empresário da pintura

Adir ficou um ano na função e teve a mão de obra cedida a uma empresa de manutenção, que era de um amigo do comandante, onde permaneceu por quatro anos. Saiu para abrir a própria empresa e passou 12 anos como prestador de serviços de manutenção e pintura, sempre  ligado à Helisul. “Trabalhava mais para a Helisul do que para outras empresas.” Em 2002, decidiu vender o negócio e voltou a ser funcionário da companhia do comandante Eloy. 

Neste retorno, para atuar como pintor de aeronaves, Adir estudou e garantiu habilitação como mecânico, se formou na Faculdade de Tecnologia e Manutenção Aeronáutica e iniciou o trabalho de auxiliar de mecânico, passando a mecânico. Por cinco anos se dividiu entre serviços para o Ibama, onde quer que fosse preciso sua presença pelo Brasil, e para a Helisul. 

Eis que surge novamente o comandante Herói – ou melhor, Eloy – e faz o pedido: “Me chamou de novo e propôs parar de viajar”, conta. Por todas estas memórias de incentivo e amizade, Adir é muito grato e guarda as melhores recordações. “Tudo que consegui na vida foi graças à aviação e ao empurrão do comandante Eloy. O primeiro carro que tive na vida, foi ele quem me emprestou dinheiro para comprar.” 

Adir garante que o dinheiro do empréstimo para compra do primeiro carro foi devolvido ao comandante. Seu Antonio, com 93 anos, e dona Francisca, com 87, hoje dão risada do episódio do bolo de dinheiro ‘roubado’. O casal permanece em Colombo e mora pertinho da casa de Adir. O inspetor de pintura é casado com Hilda e pai de Camila, de 26 anos, e Carolina, 22.