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Dia do Aviador: ainda vale a pena realizar o sonho de criança?

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Comemorado no dia 23 de outubro, há 85 anos, a data traz uma reflexão para o que foi e o que reserva a carreira nesta segunda década do século 21  

Há 85 anos, no dia 23 de outubro é celebrado o Dia do Aviador no Brasil. O decreto assinado em 1936 usa como base a data do primeiro voo de um avião. Na mesma data, em 1906, o brasileiro Alberto Santos-Dumont realizava em Paris, na França, a façanha de levantar do solo um aparelho mais pesado que o ar. Ele pilotava o 14-Bis. De lá para cá, obviamente, houve muita inovação, e até em avião sem piloto já se fala.

Uma realidade, porém, ainda distante na avaliação de quem atua no segmento há mais de 25 anos. “Esse mundo das aeronaves sem piloto está aí, mas isso não é o fim das aeronaves com piloto no controle. Tem muito futuro para essa profissão”, afirma o piloto de helicópteros e diretor de operações da Helisul Aviação, Robinson Bordin, que atua há duas décadas na companhia de serviços aéreos.

Bordin tem um pé no passado e outro no futuro da aviação, vivenciando e contribuindo com boa parte da evolução do segmento dentro da Helisul. Desde 2000, teve várias funções, desde office boy, passando a auxiliar de rampa e auxiliar de mecânicos de manutenção. Habilitado para trabalhar como piloto comercial, foi primeiro copiloto e depois comandante em operações de aeronaves do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA) a serviço da Helisul, e comandante de helicóptero nas Cataratas do Iguaçu, na fronteira Brasil-Argentina e Rio de Janeiro nos voos panorâmicos. 

Nos últimos anos, atuou com operação de serviço aéreo especializado, como no combate a incêndio, inspeção de linhas de transmissão, aerolevantamento, carga externa, etc. Experiente na área, assumiu em 2011 a chefia de carga externa da Helisul. “Fui me aprimorando e essas operações foram crescendo dentro da empresa. As solicitações de treinamentos começaram a crescer e nos tornamos referência no Brasil na área de carga externa de linha longa, o que não se encontra com facilidade no país”, revela Bordin. 

Passada toda essa trajetória, Bordin vivenciou grandes evoluções na aviação, especialmente nos últimos cinco anos. “A ANAC trouxe mudanças significativas. O que antes não passavam de regras não oficiais, digamos assim, e que deixavam o setor no limbo, hoje em dia estão muito mais documentadas e temos como nos embasar. Está bem mais regrado e isso melhorou muito nosso trabalho”, avalia o piloto.

A essência do aviador, por sua vez, continua a mesma, diz ele, mas com mais habilidades. “Os pilotos que vêm aí precisam ter um olhar apurado, sempre além, voltado a inovações e novas tecnologias, para estar sempre um passo à frente e não correr o risco de perder boas oportunidades na carreira. O segredo é conhecer o passado da aviação, analisar o presente e projetar o futuro.”

Presente e futuro

A aviação, que vinha em ritmo de expansão até a chegada da pandemia de coronavírus, em 2019, está em um movimento de retomada das atividades nesta reta final de 2021. O setor passou por alguns meses de pausa em parte da malha viária, ao mesmo tempo que realizou ações importantes contra os impactos da pandemia, como no auxílio à repatriação de brasileiros e permissão do transporte de cargas perigosas, como foram as de cilindros de oxigênio.

Nesta nova decolagem, um dos principais desafios para o futuro é a igualdade de gênero no setor aéreo, com a quebra definitiva do paradigma de que profissões do setor, como é a de piloto aviador, seja uma carreira masculina, assim como é nas categorias de mecânico e despachante. Na aviação, apenas nas equipes de comissários de bordo há muito mais mulheres do que homens.

A expansão do número de mulheres na aviação foi, inclusive, um dos temas abordados no AirConect 2021, que reúne o ecossistema do transporte aéreo, realizado em setembro. “Na última década, teve um aumento muito grande. Apesar de ainda ser um número baixo, está em expansão”, disse na ocasião a superintendente de Pessoal da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), Mariana Altoé.

De acordo com a ANAC, do total de 967 licenças de pilotos comerciais emitidas em 2019, 52 foram para mulheres (5,4%). Um levantamento do ano anterior feito pela Agência aponta que 3% do quadro total de pilotos brasileiros é formado por mulheres: são quase 1,5 mil profissionais do sexo feminino diante de 46,5 mil do sexo masculino.

Por mais mãos femininas no comando

A curitibana Caroline Luane Ferreira, de 27 anos, é uma das personagens prontas para este futuro com mais mulheres no comando das aeronaves. Ela concluiu a graduação na faculdade de Ciências Aeronáuticas em 2012, na capital paranaense, e, em 2020, cumpriu as horas mínimas de voo para conquistar o brevê. Há seis anos e meio é colaboradora da Helisul, atuando na área de operações.

Com as primeiras 200 horas de voo no currículo, ela aguarda a oportunidade de realizar o sonho de menina, de ser piloto comercial. “Desde os 12 anos decidi que queria isso, queria contato com as pessoas da aviação”, afirma. Sendo mulher, porém, Caroline achava que teria oportunidade na aviação somente se fosse no cargo de comissária de bordo.

Foi a determinação de uma outra mulher – a exemplo de pioneiras como Thereza de Marzo, primeira mulher a tirar brevê como piloto aviador, Anésia Pinheiro Machado, Ada Rogato e Lucy Lúpia Balthazar – que fez com que Caroline não mudasse da ideia de transportar pessoas de um lado a outro a bordo de uma aeronave.

“Conheci uma mulher que estava fazendo curso de piloto e aquilo me fascinou. Pensei: ‘Ah, eu posso ser piloto! Já que posso, quero ser’.” A jovem aviadora entende que o desafio ainda é imenso, mas percebe a evolução no segmento da aviação, inclusive na área que deseja fazer carreira.

“Meu objetivo é ser piloto de passageiro no futuro. Nesta área, de piloto comercial, acredito que esse preconceito tenha acabado, assim como no setor de táxi aéreo. Até pouco tempo havia empresas que não contratavam mulheres e hoje contratam. Ainda a área executiva é mais contrária a contratar uma mulher. Vejo que é bem complicado.”

Caroline garante que está preparada para ajudar a desestigmatizar a profissão – a qual independe de empecilho técnico ou legal, já que os requisitos para obtenção das licenças de piloto não passam pela distinção de sexo. “Posso dizer que a gente consegue fazer mais coisas ao mesmo tempo, este é um fator positivo das mulheres. No mais, não vejo qualquer diferença”, afirma a aviadora.