revista helisul

Cilada e emoção garantidas com o inspetor chefe da base de Florianópolis

Compartilhe esse post

Share on facebook
Share on twitter
Share on linkedin
Share on email

Há anos a Helisul Aviação admitiu, inicialmente na limpeza de aeronaves e como auxiliar de manutenção, o catarinense Regis Rosa Ferreira Júnior. Em 2007 foi aprovado no vestibular para o curso de Tecnólogo de Manutenção de Aeronaves, em Curitiba. Regis então mudou-se para a capital paranaense para poder estudar. Foram dois anos na cidade entre a formação e as atividades profissionais como auxiliar de manutenção no Hangar 41, no Aeroporto do Bacacheri.

Algum tempo depois, Regis foi promovido a mecânico e assumiu as tarefas a serviço do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama). Foi então que a vida, digamos, pacata ou dentro do que se consideraria normal, ganhou ares de aventura. Foram nove anos de muito esforço, aprendizado e dedicação, nas áreas de sismologia e aeronivelamento, em escalas de trabalho 15×15 e viagens para tudo que era lado nas missões pelo Instituto.

Sem dúvida, foram os nove anos mais marcantes da carreira de Regis na Helisul, com histórias e memórias que não devem nada a qualquer cilada vivida por Pedro e Bino pelas estradas do Brasil, na série de televisão Carga Pesada, ou qualquer perrengue que o moço da cidade grande Joventino Leôncio, de Pantanal, possa vir a se meter. 

Sim, tem “causo” envolvendo onça, crocodilo, fuga  e muitos outros ‘personagens’. Que o digam os diversos parceiros que estiveram com Regis nestas verdadeiras aventuras, como a piloto Mariana, Manoelzinho, Carlos de Arimatéia, Jair, os comandantes Muriel, Duran e Ling, entre tantos outros. 

São histórias para dias inteiros de conversa, como o dia em que uma das aeronaves passou por uma pane no estado do Pará. Estavam todos os envolvidos no trabalho alojados dentro de um ginásio de esporte – Ibama, Polícia Federal – pois a cidade estava sendo alvo. Uma pane em uma aeronave, 2h de mata adentro, impediu que pudesse levantar voo novamente. 

“Eles conseguiram fazer contato e fomos até o local de viatura. Realmente o helicóptero não podia voar e nem ficar sozinho. Eu e um tripulante ficamos e os outros retornaram, porque estavam o dia inteiro sem comer, sem nada. Ficamos fazendo quarto de hora na frente do helicóptero, tocando fogo em 50, 60 litros de querosene, porque uma onça ficava esturrando de um lado e a gente não sabia onde estava aquela onça. Era um sentado com um fuzil e outro dormindo um pedaço de tempo. A cada duas horas, a gente trocava e até de manhã foi assim. Ficar dentro da aeronave a gente não podia, porque tinha o fogo na frente e podia pegar no helicóptero. Até que chegaram no outro dia, umas 10h da manhã ou mais, com material que solicitei, um rotor de cauda inteiro. Trocamos no meio do mato e voltamos”, relata Regis.

Teve ainda os bambis (equipamentos de combate a incêndio) perdidos dentro da sugestiva Lagoa da Confusão, no Tocantins, durante uma missão. “Perdemos os bambis dentro de uma lagoa que tinha crocodilo, de 3,5 a 4 metros. Eles não atacavam a gente, mas eram visíveis. E quem vai buscar isso? Falei: “Eu não vou”. O bicho era maior do que a canoa!”. No fim das contas, Regis pediu ajuda a um índio, que recuperou os bambis e os devolveu à terra firme. “Mas ia morrer por lá. O crocodilo só ficava de olho na gente”, relembra.

Outro perrengue aconteceu certa vez quando um grupo de pessoas cismou que iria tocar fogo em um caminhão usado pela equipe da Helisul em uma das missões – esta Regis não lembra onde. “O pessoal já tinha jurado que ia tacar fogo no nosso caminhão e eu sabia que o caminhão estava vindo. Então peguei uma moto alugada, de madrugada, e entrei no caminho. Fui de encontro ao caminhão, porque, se ele chegasse na cidade, iam pegar o motorista e tacar fogo. De lá, fomos com o caminhão para outra cidade. Depois voltei de moto e eles queriam era me pegar, tive que fugir também.”

Para fechar a “série de aventuras” em grande estilo, a última delas foi no Amazonas. Regis estava em missão com o comandante Ling em um município do estado brasileiro. A Helisul havia sido contratada por uma empreiteira que, sem a operadora de aeronaves saber, estava devendo para o comércio da cidade inteira: alimentação, restaurante, hotel. 

“Ficamos sabendo que eles iriam segurar o helicóptero como pagamento, mas mal sabiam eles que o helicóptero não era da empresa devedora. Eles estavam sabendo que nossa missão estava acabando. Tem sempre um informante e falaram: ‘Eles estão indo lá pro aeroporto agora no final de tarde, amarrar o helicóptero e ficar com ele como pagamento. E se não entregarem, eles tacam fogo’. Sabendo disso, pegamos todas as coisas do hotel, nem pagamos. E fomos direto pro aeroporto. Entramos no helicóptero, partimos e saímos sem rumo, só pra tirar ele dali. A gente teve que sequestrar nosso próprio helicóptero e fugir pra uma base remota, para, no outro dia, trasladar para Curitiba.” 

Segundo Regis, não se sabe qual foi o desfecho entre a empresa caloteira e o comércio da cidade. A Helisul, porém, não deixou de receber o pagamento pela contratante. “Pagaram, na Justiça”, conta o inspetor. 

Fim das aventuras e retorno a Florianópolis

Após alguns anos Regis retornou, em comum acordo com a Helisul, para Florianópolis. Foi então que assumiu o cargo de inspetor chefe da base da capital catarinense, onde está até o momento. O desejo de parar um pouco chegou quando a segunda filha de Regis nasceu.

“Via ela de 15 em 15 dias. Não via ela crescer. Aí me deram a oportunidade de parar com as missões e a chefiar aqui. Assumi a base, que não existia nada, e hoje é a segunda em maior movimento em manutenção da empresa, depois de Curitiba.” 

A base de Florianópolis tem 27 empresas cadastradas e conta com uma equipe de nove pessoas, entre mecânicos, auxiliares e administrativo. Hoje avô de um menino de um ano, filho da primogênita, de 23, Regis se diverte relatando as tantas histórias pelas quais passou, agora com muito mais tempo com toda a família.

“Virei avô, meu netinho tem um ano. É melhor que filho. Na época deles a gente só trabalha e não vê. Agora tem mais tempo para os netos. A gente pode estragar. O ruim fica só para os pais”, brinca.