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Inspetor indomável: da periferia de Brasília para o céu de todo o Brasil

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O inspetor de manutenção de asa rotativa Celso Fleres tem 44 anos e, neste mês de fevereiro, completa 12 anos de atuação na base da Helisul em Brasília

O sonho de vestir o elegante e imponente uniforme da Aeronáutica, a la tenente Maverick (personagem de Tom Cruise, em Top Gun – Ases Indomáveis), e o gosto por bicicletas e carros desde a adolescência foram pontos de largada para a carreira profissional do brasiliense Celso Fleres. Na Helisul, atua como inspetor de manutenção de asa rotativa, função que desempenha na base de Brasília/DF.  

Fleres é nascido e criado na cidade satélite de Ceilândia, que fica a 35 quilômetros da capital federal. Os pais se separaram quando ele tinha apenas seis meses de vida e, desde então, junto com os irmãos mais velhos Ana Paula e Carlos, foi criado na periferia apenas pela mãe. Dona Maria dava conta de tudo sozinha.   

“Minha mãe, vinda do Piauí, teve que trabalhar em dois empregos. De manhã como doméstica e de noite em um hospital, como auxiliar de limpeza. Ela nos sustentou assim por um bom tempo. E a gente ficava por conta. Um cuidando do outro”, recorda o inspetor de manutenção.

Por trabalhar tanto para poder sustentar a turma toda, a mãe acabava não participando de vários momentos da vida de Fleres. Mesmo uma simples reunião na escola era difícil de estar. E aí o jeito, a exemplo da própria Dona Maria, foi se virar sozinho e aprender vivendo. Assim foi, até que iniciou os primeiros contatos com as habilidades que o levaram até o mundo da aviação.  

“Quase não via a minha mãe, sentia falta. Fui me autodeclarando independente. Como na época eu era uma criança na periferia, gostava muito de bicicleta. Com 15 anos, comecei a lixar quadro de bicicleta em uma oficina, para o dono pintar. Com o tempo fui aprendendo manutenção de bicicleta. Já comecei a botar a mão na graxa. E sempre gostei de mexer com ferramenta”, conta.

Aos 18, Fleres entrou para o quartel, onde escolheu servir à Aeronáutica. “Achava bonito o uniforme e gostava de aviação. Era o sonho de colocar o uniforme. Foi uma experiência muito boa. Mais ou menos um ano de recruta.”

Apaixonado por carros, o inspetor queria trabalhar na garagem, mas foi colocado na função de apoio aos veículos que chegavam à base aérea de Brasília, dirigindo uma Kombi amarela, que tinha atrás a frase Follow Me. Foram quatro anos conferindo se havia animais na pista ou peças de aeronaves perdidas no solo, correndo atrás de paraquedas de caças para entregar aos mecânicos ou servindo de “batedor” de aviões, “iluminando” seus caminhos na pista.

Vida pós-quartel

Com uma vida no quartel já não tão satisfatória, Fleres decidiu bater asas e conseguiu uma vaga como auxiliar de pista em uma companhia de táxi aéreo. Mas ele gostava de colocar a mão na massa, ou melhor, nas “máquinas”. E quem segurava Fleres?

“Lavava aviões e helicópteros. Gostava, porque tinha contato direto. Fazia polimento, encerava, limpava por dentro. E aí o gosto pela aviação aumentou”, diz ele. Foram sete anos na empresa. Na metade desta jornada, o profissional começou a estudar em uma escola de aviação, para se aperfeiçoar em suas atividades. Quando estava perto de concluir o curso, após três anos, veio o desligamento da empresa.

Por um período de dois anos, Fleres trabalhou como instalador em uma empresa de telefonia, até que surgiu a oportunidade de ser contratado pela Helisul. “Quando a Helisul fechou um determinado contrato, só tinha um mecânico, e ele me indicou para ir para lá. Quando cheguei no hangar, o colega que convidou já mandou eu pegar água com sabão para lavar os helicópteros.”  

Fleres assumiu a função de auxiliar de manutenção, na época para tomar conta de 8 aeronaves. E a partir de então começou a atuar pela Helisul, a percorrer o Brasil todo em missões pela operadora e a criar memórias marcantes.

“Ver seu dever cumprido é uma sensação gratificante. Poder ajudar uma pessoa não tem preço. Essas coisas marcam, missão de deslizamento, enchente. Uma vez fui a uma missão de resgate de enchente e o piloto disse que foram resgatadas umas 60 pessoas em um dia”, revela Fleres.

Para ele, um salvamento que considera inesquecível foi o de uma criança de aproximadamente cinco anos que se afogava em uma piscina, em Brasília. “Isso tem uns oito anos. A gente não esquece.”

Amor por velocidade

Fleres é um amante não somente de mexer com motores e estruturas de carros, mas da velocidade que eles podem proporcionar em terra firme. Adora participar de competições, como  kart e carro turbo e tudo o que se possa imaginar dentro deste universo, como o próprio inspetor conta. “Se tiver gasolina e ligar, estou lá, pra ver barulho e fumaça”, diz. Está certo que não é um grande vencedor. Segundo ele, “ganha uma e perde seis”. O que vale mesmo é a diversão.

O inspetor também curte “carros velhos”, como ele chama. Volta e meia roda por Brasília com seu Chevett de motor turbinado. Como ele afirma, é seu “meio de gastar dinheiro”.

Família e legado

Atualmente, Fleres mora em Guará, uma cidade satélite de Brasília que fica a 15 quilômetros de Ceilândia, onde ainda moram Dona Maria e a família da irmã dele. O irmão também se casou e mora em Riacho Fundo II.

O inspetor Fleres está solteiro e é pai de João Vitor, de 23 anos. O rapaz parece ser um grande fã do pai, até a mesma carreira ele escolheu seguir. “Quero ser igual ao senhor”, disse, quando perguntado qual profissão gostaria de ter.

E assim se cumpre. Há cerca de dez meses, João Vitor mudou para Curitiba, para trabalhar como auxiliar de manutenção na Helisul, empresa que o pai viu crescer aceleradamente neste período em que nela atua e da qual se orgulha. “Uma subida muito rápida. É gratificante fazer parte.”